Francisco Cândido Xavier,[1] mais conhecido como Chico Xavier (Pedro Leopoldo2 de abril de 1910 — Uberaba30 de junho de 2002), foi um médiumfilantropo e um dos mais importantes expoentes do Espiritismo.[2][3][4][5][6][7] Seu nome de batismo, Francisco de Paula Cândido, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, foi substituído pelo nome paterno de Francisco Cândido Xavier logo que publicou os primeiros livros, mudança oficializada em abril de 1966, quando chegou da sua segunda viagem aos Estados Unidos.[1]

Chico Xavier alegava ter psicografado mais de 450 livros,[8][9][10] que até o ano de 2010 já haviam vendido mais de 50 milhões de exemplares,[8][11][12][10] sendo o escritor brasileiro de maior sucesso comercial da história.[13][14] Os direitos autorais das obras foram cedidos para instituições de caridade.[1][2][3][11][12][13][10] Também psicografou cerca de dez mil cartas, nunca tendo cobrado algo ao destinatário.[2][12][10] Seus empregos foram vendedor, tecelão e datilógrafo, tendo vivido de forma modesta.[12][15][10]

Seu legado ultrapassou as barreiras religiosas e hoje ele é reconhecido como o maior “líder espiritual” do Brasil, sendo uma das personalidades mais admiradas e aclamadas no país, ressaltado principalmente por um forte altruísmo.[11][12][13][16][17]

Chico recebeu várias homenagens e honrarias. Em 1981 e 1982 foi indicado ao prêmio Prêmio Nobel da Paz,[18] tendo seu nome conseguido cerca de 2 milhões de assinaturas no pedido de candidatura;[19] em 1999 o Governo de Minas Gerais instituiu a Comenda da Paz Chico Xavier;[20] e em 2012 ele foi eleito O Maior Brasileiro de Todos os Tempos, em um concurso homônimo realizado pelo SBT e pela BBC, cujo objetivo foi “eleger aquele que fez mais pela nação, que se destacou pelo seu legado à sociedade”.

Biografia

Infância

Nascido no seio de uma família humilde, teve oito irmãos. Era filho de João Cândido Xavier, um vendedor de bilhetes de loteria, e de Maria João de Deus, uma lavadeira católica, ambos analfabetos.[12][21] Segundo biógrafos, a mediunidade de Chico teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade.[12][22]

Os abusos da madrinha

A mãe morreu quando Francisco tinha apenas cinco anos. Incapaz de criá-los, o pai distribuiu os nove filhos entre a parentela. Nos dois anos seguintes, Francisco foi criado pela madrinha e antiga amiga de sua mãe, Rita de Cássia, que logo se mostrou uma pessoa cruel, vestindo-o de menina e batendo-o diariamente, inicialmente por qualquer pretexto e, mais tarde, sob a alegação de que o “menino tinha o diabo no corpo“.[12][23]

Não se contentando em açoitá-lo com uma vara de marmelo, Rita passou a cravar-lhe garfos de cozinha no ventre, não permitindo que ele os retirasse, o que lhe ocasionou terríveis sofrimentos. Os únicos momentos de paz que tinha consistiam nos diálogos com o espírito de sua mãe, com quem se comunicava desde os cinco anos de idade.[22]

O contato e a adesão à Doutrina Espírita

Centro Espírita Luiz Gonzaga (2008).

Em 1927,[15] então com dezessete anos de idade, Francisco viu-se diante da insanidade de uma irmã, que acreditou ser causada por um processo de obsessão espiritual.[24]

Desse modo, pela sua mediunidade começaram a manifestar-se diversos poetas falecidos, somente identificados a partir de 1931. Em 1928, começou a publicar as suas primeiras mensagens psicografadas nos periódicos O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal.[11]

As primeiras obras

Em 1931, em Pedro Leopoldo, perdeu a madrasta Cidália e deu continuidade à obra Parnaso de Além-Túmulo. Esse ano também marcou a “maioridade” do médium e o encontro com seu mentor espiritual Emmanuel, “…à sombra de uma árvore, na beira de uma represa…” .[1] Chico dizia que o mentor o informa sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros e explica-lhe que para isso são lhe exigidas três condições: “disciplina, disciplina e disciplina”.[1]

Em 1932, foi publicado o Parnaso de Além-Túmulo pela Federação Espírita Brasileira (FEB). A obra, coletânea de poesias ditadas por espíritos de poetas brasileiros e portugueses, obteve grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública brasileira e causou espécie entre os literatos brasileiros, que em geral se impressionaram positivamente com o livro. O impacto era aumentado ao se saber que a obra tinha sido escrita por um “modesto escriturário” de armazém do interior de Minas Gerais, que mal completara o primário.[25]

Continuou com o seu emprego de escrevente-datilógrafo, na Fazenda Modelo da Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal, iniciado em 1935, e a exercer as suas funções no Centro Espírita Luiz Gonzaga, atendendo aos necessitados com receitas, conselhos e psicografando as obras do além. O administrador da fazenda era o engenheiro agrônomo Rômulo Joviano, também espírita, que além de conseguir o emprego para Chico, o ajudava a ter a paz necessária para os trabalhos de psicografia, acompanhando-o nas sessões do Centro Luiz Gonzaga, do qual se tornaria presidente. Foi justamente no período em que psicografava nos porões da casa de Joviano que foi escrita uma de suas maiores obras, intitulada Paulo e Estevão.[1]

Paralelamente, iniciou uma longa série de recusas de presentes e distinções, que perdurará por toda a vida, como por exemplo a de Fred Figner, que lhe legou vultosa soma em testamento, repassada pelo médium à FEB para uso caritativo.[1][26] Fred Figner, o grande empresário, fundador da Casa Edison, pioneiro das gravações de música no Brasil, que possuía uma coluna de jornal sobre Espiritsmo, se correspondeu por mais de 17 anos com Chico Xavier.[1] Um ano após o falecimento de Figner, em 1948, Chico Xavier psicografa o livro “Voltei”, assinado pelo espírito de “Irmão Jacob”, que seria o próprio espírito de Figner.[27] Este livro é considerado de grande relevância na cultura espírita, por conter importantes relatos e recomendações aos seguidores da religião. “Voltei” só foi publicado em 1949, sendo até hoje um livro de grande vendagem e leitura.

Com a notoriedade, prosseguiram as críticas de pessoas que tentavam desacreditá-lo. Além delas, Chico Xavier ainda dizia que inimigos espirituais buscavam atingi-lo com fluidos negativos e tentações. Souto Maior relata uma tentativa de “linchamento pelos espíritos”, bem como um episódio em que jovens nuas tentam o médium em sua banheira. Observe-se que ambos os episódios contêm aspectos narrativos comuns à chamada “prova”, comum em histórias de santidade.[1]

O caso Humberto de Campos

No decorrer da década de 1930, destacaram-se ainda a publicação dos romances atribuídos a Emmanuel e da obra Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, atribuída ao espírito de Humberto de Campos, onde a história do Brasil é interpretada por uma óptica espiritual e teológica. Essa última obra trouxe como consequência uma ação judicial movida pela viúva do escritor, que pleiteou por essa via direitos autorais pelas obras psicografadas, caso se confirmasse a autoria do famoso escritor maranhense.[28]

A defesa do médium foi suportada pela FEB e resultou, posteriormente, no clássico A Psicografia Perante os Tribunais, do advogado Miguel Timponi. Em sua sentença, o juiz decidiu que os direitos autorais referiam-se à obra reconhecida em vida do autor, não havendo condição de o tribunal se pronunciar sobre a existência ou não da mediunidade. Ainda assim, para evitar possíveis futuras polêmicas, o nome do escritor falecido foi substituído pelo pseudônimo Irmão X.[29][30]

Nessa época, Francisco ingressou no serviço público federal, como auxiliar de serviço no Ministério da Agricultura.

Nosso Lar

Ver artigos principais: Nosso Lar e Nosso Lar (filme)

Em 1943, vem a público um dos livros mais populares da literatura espírita, o romance Nosso Lar, o mais vendido e divulgado da extensa obra do médium, que no ano de 2010 se tornou um filme e já havia vendido mais de dois milhões de exemplares.[31]

O caso David Nasser e Jean Manzon

Em 1944, os repórteres David Nasser e Jean Manzon fizeram uma reportagem não muito simpática sobre o médium, a qual foi publicada em “O Cruzeiro“.[32] Os repórteres se fingiram de estrangeiros e usaram nomes falsos para testarem se Chico era um farsante; porém, quando Nasser e Manzon chegaram em casa após a reportagem, tiveram uma surpresa, como relatou Nasser numa entrevista à TV Cultura em 1980: “De Madrugada, o Manzon me telefonou e disse: ‘você já viu o livro que o Chico Xavier nos deu?’. Falei que não. ‘Então veja’, ele falou. Fui na minha biblioteca, peguei o livro e estava escrito exatamente isso: ‘ao meu irmão David Nasser, de Emmanuel’. Ao Manzon ele havia feito uma dedicatória semelhante. Por coisas assim é que eu tenho muito medo de me envolver em assuntos de Espiritismo”.[33]

O caso Amauri Pena

Ver artigo principal: Amauri Pena

Em 1958, o médium viu-se no centro de uma nova polêmica, desta vez por conta das denúncias de um sobrinho, Amauri Pena, filho da irmã curada de obsessão. O sobrinho, ele mesmo médium psicógrafo, anunciou-se pela imprensa como falso médium, um imitador muito capaz, acusação que estendeu ao tio. Chico Xavier defendeu-se, negando ter qualquer proximidade com o sobrinho. Já com antecedentes de alcoolismo e com sérios remorsos pelos danos causados à reputação do tio, Amauri retirou a acusação e foi internado num sanatório psiquiátrico em São Paulo, onde morreu.[1]

Década de 1960 e a parceria com o médium Waldo Vieira

Em 1955, Chico Xavier conheceu pessoalmente o médium e então estudante de Medicina Waldo Vieira, o que resultou em uma parceria espírita — que durou até 1966 — na qual psicografaram 17 livros em comum.[34]

Em 22 de maio de 1965, Chico Xavier e Waldo Vieira viajaram para WashingtonEstados Unidos, a fim de divulgar o espiritismo no exterior. Com a ajuda de Salim Salomão Haddad, presidente do centro Christian Spirit Center, e sua esposa Phillis, estudaram inglês e lançaram o livro Ideal Espírita, com o nome de The World of The Spirits.[1]

No natal de 1965, Chico e Waldo promoveram uma distribuição de alimentos e roupas para mais de onze mil pessoas que formaram uma fila na porta do Comunhão Espírita Cristã.[1]

Década de 1970 e entrevistas no programa Pinga-Fogo

No início da década de 1970, Xavier participou de programas de televisão que tiveram grande repercussão. Sua entrevista ao vivo cedida ao programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, em 28 de julho de 1971 (começando na noite do dia anterior), atingiu 35 pontos de audiência e foi reprisada três vezes em São Paulo e retransmitida para todo o Brasil,[35] além de uma edição extra no Diário de S. Paulo, com a íntegra do programa.[36] O programa se estendeu consideravelmente. O apresentador comentava diversas vezes durante o programa que o fim estava próximo, mas o programa continuava. Neste dia, Chico contou o famoso Caso do Avião:[37][38] em um vôo de Uberaba a Belo Horizonte, o avião passou por fortes turbulências e todos começaram a orar e gritar muito, o que Chico também fez. Então, Emmanuel entra no avião e, após um pequeno diálogo, censura Chico pela sua falta de fé: “Cala a boca e morra com educação para não afligir a cabeça dos outros com os seus gritos, morra com fé em Deus!”. Ao fim do programa, Chico psicografou um poema de autoria atribuída a Ciro Costa, chamado Segundo Milênio. Segundo Herculano Pires, alguns familiares de Ciro Costa assistiam o programa, e atestam a presença do estilo do poeta.[36][39]

O sucesso do primeiro programa levou à uma segunda edição, em 21 de dezembro de 1971, começando na noite do dia anterior, também com grande repercussão. Atingiu 86% de IBOPE, segundo o então entrevistador Saulo Gomes,[36] o que foi alegado como um recorde de audiência na televisão brasileira.[40][41] Nesta edição do programa, diante da pergunta do entrevistador sobre “o que pensam os chamados benfeitores espirituais quanto à posição do Brasil atual, seja no terreno político ou social”, Chico Xavier respondeu que “a posição atual do Brasil é das mais dignas e mais encorajadoras para nós”, explicando que “a nossa democracia está guardada por forças que nos defendem contra a intromissão de quaisquer ideologias ligadas à desagregação”. Esta resposta demonstra que Chico Xavier se encontrava de acordo com o governo e a política de então.[42][43] Ao fim do segundo programa, Chico psicografou um poema de autoria atribuída a Castro Alves, chamado Brasil. Nas duas ocorrências do Pinga-Fogo, Chico respondeu, alegadamente sob a inspiração direta de Emmanuel, a várias perguntas de jornalistas e da plateia sobre temas como mediunidadepsicografiavida em outros planetasreencarnaçãoabortocremaçãohomossexualidadeumbandamorteevoluçãovegetarianismosalvaçãotransplante de órgãosmilagresmovimento hippiedivórcio, e vários outros.[36]

Nessa década, além da catarata e dos problemas de pulmões, passou a sofrer de angina. Em 1975, desligou-se do centro espírita “Comunhão Espírita Cristã” e fundou um novo em Uberaba, o “Grupo Espírita da Prece”, onde passou a exercer suas atividades.[44]

As décadas de 1980 e 1990

Em 1980 já havia duas mil instituições de caridade fundadas, ajudadas ou mantidas graças aos direitos autorais dos seus livros psicografados ou a campanhas beneficentes promovidas por ele.[1] Em 1981, foi proposto para se candidatar ao Prêmio Nobel da Paz, campanha encabeçada pelo amigo Augusto César Vanucci, então diretor da Rede Globo, concorrendo com vultos da época, como João Paulo II, prestes a visitar o Brasil pela primeira vez, e pelo líder sindicalista polonês Lech Walesa. Pelo extenso trabalho social exercido pelo médium mineiro, achavam certa sua vitória, já que Madre Teresa de Calcutá, com um trabalho menos vultoso, fora premiada no ano anterior. Mas nenhum destes ganhou — uma instituição da ONU, de acolhimento a refugiados internacionais, levou o Nobel naquele ano.[45]

No ano de 1994, o tabloide norte-americano National Examiner publicou uma matéria em que, no título, declarava que “Fantasmas escritores fazem romancista milionário”.[46] A matéria foi alardeada no Brasil com destaque pela hoje extinta revista Manchete,[47] com o título de Secretário dos Fantasmas, onde se declarava que, segundo informava a National Examiner, o médium brasileiro ficou milionário, havendo ganho 20 milhões de dólares como “secretário de fantasmas”.[carece de fontes]

A revista Manchete continuava: “Segundo o jornal, ele é o primeiro a admitir que os 380 livros que lançou são de ‘ghost-writers’, mas ‘ghosts’ mesmo, em sentido literal”, concluindo que Chico simplesmente transcreve as obras psicografadas de mais de 500 escritores e poetas mortos e enterrados.[48]

O médium não respondeu, mas a FEB, por seu então Presidente Juvanir Borges de Souza, editora de boa parte das obras de Chico Xavier, enviou uma carta à revista em que informava utilizar os direitos autorais e a remuneração pelas obras de Francisco Cândido Xavier para uso da caridade, o mesmo se passando com outras editoras, ressaltando que “os direitos autorais são cedidos gratuitamente, visando a tornar o livro espírita bastante acessível e a contribuir, destarte, para a difusão da Doutrina Espírita”.[48]

O mesmo Presidente da FEB, em 4 de outubro daquele ano, por ocasião do I Congresso Espírita Mundial, apresentou uma “moção de reconhecimento e de agradecimento ao médium Francisco Cândido Xavier”, aprovada pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, em proposta apresentada pelo Presidente da Federação Espírita do Estado de Sergipe. No documento, as entidades representativas do espiritismo no Brasil devotavam a sua gratidão e respeito ao médium “pelos intensos trabalhos por ele desenvolvidos e pela vida de exemplo, voltados ao estudo, à difusão e à prática do espiritismo, à orientação, ao atendimento e à assistência espiritual e material aos seus semelhantes”.[49]

Morte

O médium morreu aos 92 anos de idade, em decorrência de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano de 2002.[50] Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico dizia que iria “desencarnar” em um dia em que os brasileiros estivessem muito felizes e em que o país estivesse em festa, para assim o desencarne dele não causar tristeza.[12][51][52][53] O país festejava a conquista da Copa do Mundo de futebol daquele ano, no dia de sua morte (Chico morreu cerca de nove horas depois da partida Brasil x Alemanha).[54]

O então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, emitiu nota sobre a morte do médium: “Grande líder espiritual e figura querida e admirada pelo Brasil inteiro, Chico Xavier deixou sua marca no coração de todos os brasileiros, que ao longo de décadas aprenderam a respeitar seu permanente compromisso com o bem estar do próximo”.[55] O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, decretou luto oficial de três dias no Estado e declarou: “Chico Xavier expressava em sua face uma imensa bondade, reflexo de sua alma iluminada, que transparecia, particularmente, em sua dedicação aos pobres, imagem que vou guardar para sempre, com muito carinho”.[56]

Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, 120 000 pessoas compareceram ao velório do médium, que aconteceu em Uberaba nos dias 1 e 2 de julho. Em um caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão com o corpo do médium percorreu cinco quilômetros até chegar ao Cemitério São João Batista, na mesma cidade, com mais de 30 mil pessoas a acompanhar o cortejo a pé. Quando o caixão chegou ao cemitério, foi recebido com uma chuva de pétalas de 3 mil rosas lançadas em profusão de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.[1]

Os centros espíritas fundados por Chico Xavier, “Grupo Espírita da Prece”[57] e “Comunhão Espírita Cristã” em Uberaba e “Centro Espírita Luiz Gonzaga” em Pedro Leopoldo, continuam funcionando e realizando muitas assistências de caridade.[58][59]

Em 2014, o Ministério Público Federal de Uberaba, em Minas Gerais, firmou um acordo com o filho adotivo do médium Chico Xavier, Eurípedes Higino, que prevê a proteção e catalogação do acervo do médium.[60]

Supostas psicografias

Ver artigo principal: Lista de livros psicografados por Chico XavierEdições francesas de algumas obras psicografadas por Chico Xavier.

Chico Xavier escreveu mais de 450 livros,[8][10] os quais alegava serem psicografados. Por considerar suas habilidades um dom para ajudar as pessoas, não aceitava dinheiro ou gratificações por seus escritos, tendo cedido os direitos autorais para instituições de caridade.[2] Vendeu mais de cinquenta milhões de exemplares em português, com traduções para o inglêsespanholjaponêsesperantofrancêsalemãoitalianorussomandarimromenosuecogregohúngaro e outros, inclusive em braile. Escreveu cerca de dez mil cartas “de mortos para suas famílias”, nunca tendo cobrado por isso.[12][2] As cartas eram tidas como psicografias autênticas pelos familiares e algumas chegaram a ser aceitas e valoradas como provas úteis em casos de julgamentos judiciais.[61][62]

Seu primeiro livro, Parnaso de Além-Túmulo, com 256 poemas atribuídos a poetas mortos, dentre eles os portugueses João de DeusAntero de Quental e Guerra Junqueiro e os brasileiros Olavo BilacCastro Alves e Augusto dos Anjos, foi publicado pela primeira vez em 1932.[15] O livro logo se tornou uma grande sensação no país.[25] O de maior tiragem foi Nosso Lar, publicado em 1944, atualmente com mais de dois milhões de cópias vendidas,[31] atribuído ao espírito André Luiz, sendo o primeiro volume da “Coleção A Vida no Mundo Espiritual”.[63]

Anos após a morte de Chico Xavier, Waldo Vieira afirmou, ao biógrafo/jornalista Marcel Souto Maior, que Chico foi um médium autêntico; destacando o livro “Sexo e Destino” como exemplo de trabalho mediúnico autêntico “muito sério” e que “merece ser estudado”, tendo a obra sido psicografada por ele em parceria com Chico e atribuída ao espírito André Luiz.[64]

Os livros atribuídos por Chico Xavier ao espírito do escritor Humberto de Campos foram o objeto de estudo do pesquisador Alexandre Caroli Rocha, em uma tese de Doutorado em Teoria e História Literária, pela Unicamp, em que concluiu que o autor dos livros possuía um amplo conhecimento das obras de Campos e foi capaz de reproduzir o seu estilo e caráter.[2][10][65]Alegoria que representa, segundo a ótica espírita, o médium Chico Xavier psicografando uma mensagem do seu espírito-guiaEmmanuel.

Uma de suas psicografias mais famosas, e que teve repercussão mundial, foi a de um caso ocorrido em Goiânia, no qual José Divino Nunes, acusado de matar o melhor amigo, Maurício Henriques, foi inocentado pelo juiz, que aceitou como prova válida, entre outras apresentadas pela defesa, um depoimento da própria vítima, já falecida, por meio de texto psicografado por Chico Xavier. O caso aconteceu em outubro de 1979. Assim, o presumido espírito de Maurício teria inocentado o amigo dizendo que tudo não teria passado de um acidente.[1][66][62] Depoimentos psicografados por Chico Xavier também foram aceitos como provas judiciais em outros três casos de julgamento de homicídio internacionalmente repercutidos.[66][62]

O pesquisador da Universidade Estadual de Londrina, Carlos Augusto Perandréa, pós-graduado em criminologia, durante cerca de 14 anos estudou cientificamente 400 cartas psicografadas por Chico Xavier em transes mediúnicos, utilizando as mesmas técnicas com que avalia assinatura para bancospolícias e o Poder Judiciário, a grafoscopia. Perandréa comparou a letra padrão dos indivíduos antes da morte e depois nas cartas psicografadas, chegando à conclusão de que todas as psicografias possuem autenticidade gráfica dos referidos mortos.[67][68] Em 1991, o pesquisador publicou o resultado desse estudo em seu livro chamado “A Psicografia à Luz da Grafoscopia”. O estudo também foi publicado na Revista Científica da Universidade de Londrina, a Revista Semina, em 1990, e igualmente apresentado, em outra oportunidade, em um Congresso Nacional, diante de mais de 500 profissionais e peritos da área, sem uma única contestação.[68][69]

Associação Médico-Espírita de São Paulo fez um estudo de 45 cartas psicografadas por Chico Xavier, o que gerou o livro “A Vida Triunfa”, de 1990. A partir de dados colhidos por um questionário padrão feito aos destinatários das cartas, a AME-SP chegou a várias constatações, por exemplo: 100% das famílias declararam 100% de acerto nos dados informados pelas cartas; 68,9% das cartas citam de um a três parentes e/ou amigos falecidos desconhecidos por Chico; 35,6% definiram as assinaturas psicografadas pelo médium como idênticas às dos autores espirituais. Como conclusão do estudo, os autores alegaram que “As evidências da sobrevivência do espírito são muito fortes. A vida é uma fatalidade, segundo o depoimento desses 45 companheiros que se expuseram, por inteiro, revelando as nuances de suas personalidades através das mãos humildes do medianeiro”.[70]

Um artigo científico publicado em 2014, indexado ao PubMed, buscou “investigar a exatidão das informações transmitidas em [13] ‘cartas psicografadas’ de Chico Xavier (i.e., cartas cuja autoria é atribuída a uma personalidade falecida) e explorar as suas possíveis explicações”. Como conclusão, foi asseverado: “nós constatamos 99 itens de informação verificáveis contidos nessas 13 cartas; 98% desses itens foram avaliados como ‘Concordância clara e precisa’, e nenhum item foi considerado como ‘Sem concordância’. Concluímos que as explicações comuns para a exatidão das informações (i.e., fraude, acaso, vazamento de informações e leitura fria) são apenas remotamente plausíveis. Esses resultados parecem fornecer suporte empírico para teorias não reducionistas da consciência”.[10]

Durante transes psicográficos, eletroencefalogramas do médium mostraram características comuns da epilepsia, mas clinicamente Chico Xavier nunca foi epiléptico.[71]

Em relação aos livros supostamente psicografados por Chico Xavier, o escritor Monteiro Lobato afirmou: “Se Chico Xavier produziu tudo aquilo por conta própria, então ele merece ocupar quantas cadeiras quiser na Academia Brasileira de Letras”.[72][73]

Fonte da informação: https://pt.wikipedia.org/wiki/Chico_Xavier

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